O Sangue
por Francisco Ferreira
Vicente e Nuno, dois irmãos de 17 e de 10 anos, bem como Clara, namorada de Vicente, vivem numa pequena localidade à beira do Tejo e ficam unidos pelo secreto desaparecimento do pai dos rapazes.
Passam-se coisas terríveis em "O Sangue", já falámos de algumas e, sem referir nomes ou entrar em comparações astrais (porque é feio: Pedro Costa está vivo e os encómios foram inventados para os mortos) até procurámos sugerir de onde elas vêm. E vêm de longe, de um cinema low genre hollywoodiano que em tempos viveu obcecado pela noite e pela infância, e obcecou um jovem cineasta português diferente dos demais. O que é revelador é o modo como "O Sangue" incorpora essa herança no Portugal do fim dos anos 80, um Portugal de Vick Vaporub para os aflitos. Começa com um estalo e com a consciência de ser o filme de todos os medos. Por outro lado, e tem sido isto que nos cativa tanto no cinema de Pedro Costa, há já em "O Sangue" mistérios sem fim escondidos na composição dos planos, na organização prévia da narrativa e, sobretudo, na montagem. Encontros tão secretos quanto as suas personagens, que voltam a dar vontade - uma vez mais, vinte anos depois - de ver, rever e comprender a inteligência da máquina que os pensou por trás. Como se fosse a primeira vez.